domingo, 18 de fevereiro de 2007

O Ter e o Ser (II)


Trabalhamos geralmente para ter; para ter mais dinheiro, para ter mais conforto, para ter mais importância social... Porém, de acordo com o ponto de vista de Agostinho da Silva, é fundamental inverter esse sentido da vida e trabalhar, sobretudo, para Ser, para ser mais apto, para ser mais consciente, para ser melhor. De acordo com este ponto de vista, até as tarefas mais monótonas e fastidiosas se podem expressar de forma criativa:

«Conta-se que um viajante se aproximou de um grupo de canteiros, integrados na construção de uma catedral. Então perguntou ao primeiro:
- Que estás a fazer?
- Como vês - respondeu - estou aqui a suar, trabalhando como um idiota, à espera que chegue a hora de ir para casa.
- E tu, que fazes? - perguntou ao segundo canteiro.
- Eu estou a ganhar o meu pão e o dos meus filhos.
- E tu, que estás a fazer? - perguntou ao terceiro.
- Eu estou a construir uma catedral.»

*
Assim, enquanto o primeiro canteiro trabalhava unicamente para ter, o segundo, apesar de ter um objectivo semelhante, assumia já uma atitude mais digna, atribuindo ao seu trabalho um sentido de serviço prestado aos familiares. Mas é o terceiro que coloca ênfase no Ser, ao considerar que estava a trabalhar com um objectivo superior: construir uma catedral.

José Flórido, in Reencontrar Agostinho da Silva, o poeta e o poema





O rosto da Europa








Primeiro


O Dos Castelos

A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe os românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto,
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este, diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.

Fita, com olhar esfingíco e fatal,
O Ocidente, futuro do passado

O rosto com que fita é Portugal.


Fernando Pessoa, Mensagem


sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

O Ter e o Ser (I)


«Ó bela cavalaria
Cavalo bem arreado
para "ser" galope largo
para "ter" freio apertado»

O Ter e o Ser. É uma questão fundamental na compreensão e na vida de todos nós.

Uma mentalidade exclusivamente orientada para o ter, como é aquela que predomina no nosso tempo, conduz inevitavelmente ao esbanjamento dos recursos naturais e, consequentemente, ao desequílibrio ecológico. Trabalhamos sobretudo para ter e não Ser; e o resultado é a fadiga, na sua variante moderna, o stress, que pode ser a causa principal do desequilibrio individual e social. Devemos, pois, estar atentos a este problema que assume dois aspectos na aparência opostos: ficamos indiferentes na presença dos factos, incapazes de reagir ou, pelo contrário, mostramo-nos imensamente activos e aparentemente infatigáveis. Se nos mostramos indiferentes e deprimidos, a sociedade censura-nos; mas, se nos mostramos hiperactivos, a sociedade admira a nossa falsa energia e recompensa-nos. Contudo, tanto a hipoactividade como a hiperactividade têm a mesma origem: a fadiga. E assim, os fatigados de um e de outro género não diferem essencialmente. Ambos estão em conflito, em desequilíbrio físico, mental e emocional. Que importa, portanto, que a sociedade censure os hipoactivos e recompense os hiperactivos? Quando se está em conflito, em desequilíbrio, em desarmonia, não se pode transmitir aos outros paz e estabilidade (...) se nos encontramos num estado de espírito negativo, como podemos fazer alguma coisa de positivo? Se não tivermos alegria nem força interior, que podemos efectivamente dar?

in, Reencontrar Agostinho da Silva, o poeta e o poema, José Flórido



quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Impressões

o o o §§§§§§§ o o o



Os lobos desceram à estrada, os olhos ávidos de sangue brilhavam pelo Desejo escondido.

Na folhagem cinzenta das árvores mais altas, os pássaros negrejavam e assobiavam enquanto os lobos atravessavam a floresta ainda húmida.

Pouco a pouco o pesado manto nocturno cobriu tudo e fez-se silêncio.

Silêncio de nevoeiro invadindo o território dos corvos e dos lobos.

A noite cresceu.
Fria como o metal das facas, arrepiante e cega.


o o o §§§§§§§ o o o


terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Francisco de Assis


Pedro Bernardone, o pai de João, após uma viagem de negócios a França, decidiu mudar o nome ao filho que passou a chamar-se Francisco, nome raro e aristocrático; Francisco de Assis nasceu e viveu rico até que, paulatinamente, descobriu a finalidade da sua vida: viver na pobreza, a felicidade verdadeira encontrou-a no hábito e no bordão, nada mais tinha.

"Francisco era um árduo defensor da não-violência, não apenas em relação aos seres humanos, mas a toda a natureza. Assim amava e respeitava todas as pessoas, ao mesmo tempo que protegia animais e plantas aos quais chamava, carinhosamente, irmãos... Nunca consumia mais que o mínimo necessário para viver e incentivava todas as pessoas a fazerem o mesmo. São Francisco é respeitado por várias religiões pela sua mensagem de paz e é o patrono da ecologia" (wikipedia)